*Por Alessandra Montini
Estamos vivendo uma revolução silenciosa dentro de nossas casas. As TVs, que por décadas desempenharam um papel passivo em nossas salas de estar, agora ganham vozes e inteligência. Com a ascensão dos chatbots de Inteligência Artificial embutidos nesses dispositivos, somos convidados a repensar nossa relação com o entretenimento e com a tecnologia. Mas, em meio a esse avanço, uma pergunta incômoda paira no ar: será que realmente precisamos dessas TVs inteligentes, ou estamos apenas adicionando uma camada de complexidade desnecessária à nossa rotina?
A CES (Consumer Electronics Show), um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, tem sido palco para o lançamento dessas TVs equipadas com chatbots de IA. As inovações apresentadas na última edição destacam funcionalidades como assistentes virtuais mais responsivos, integração com dispositivos IoT e algoritmos de aprendizado profundo que prometem revolucionar a experiência do usuário. No entanto, essa comodidade também traz implicações relevantes: privacidade, dependência tecnológica e uma possível redução da autonomia do consumidor em suas escolhas.
Se olharmos para os avanços recentes da Inteligência Artificial, percebemos que a personalização do entretenimento nunca esteve tão avançada. Algoritmos que aprendem com nossos hábitos, oferecendo conteúdo sob medida, podem parecer um sonho para muitos. Mas, ao mesmo tempo, esse nível de customização pode nos aprisionar em bolhas de conteúdo, limitando nossa exposição a diferentes perspectivas e reduzindo a diversidade cultural do que consumimos.
Outro ponto de reflexão é a real necessidade de interação constante. As TVs com chatbots de IA são projetadas para estimular uma conversa permanente, tornando-se um interlocutor presente em nosso dia a dia. Mas e se essa interação não for tão necessária assim? Afinal, a beleza do entretenimento televisivo sempre esteve, em parte, na passividade e na simplicidade de simplesmente sentar e assistir.
Além disso, há uma questão latente de segurança. TVs conectadas, dotadas de IA, estão constantemente coletando dados para melhorar a experiência do usuário. Mas até que ponto esses dados estão seguros? Empresas garantem a proteção da informação, mas históricos de vazamentos e uso indevido mostram que a cautela deve sempre prevalecer.
Não podemos ignorar também o impacto psicológico dessa tecnologia. Com chatbots projetados para serem cada vez mais humanos, qual será o efeito de substituirmos interações humanas reais por conversas com uma máquina? E mais: estamos preparados para um mundo em que até mesmo o ato de escolher um filme precise de intermediação artificial?
Por fim, a verdadeira questão é se essas inovações estão alinhadas às necessidades reais do consumidor ou se são apenas uma tentativa da indústria de se manter relevante em tempos de revolução digital. As TVs com chatbots de IA têm seu lugar no futuro do entretenimento, mas a reflexão que devemos fazer é se essa inteligência artificial está a nosso serviço ou se estamos sendo conduzidos para um futuro que talvez nem tenhamos solicitado.
*Alessandra Montini é diretora do Labdata, da FIA