Vivemos numa era em que dados se tornaram o combustível da gestão. Relatórios, métricas, dashboards e indicadores brotam de todos os lados, com a promessa de tornar decisões mais rápidas, racionais e embasadas. No entanto, quanto mais as empresas mergulham em números, maior parece ser a sensação de que algo está faltando. A pergunta que emerge, muitas vezes abafada pelo entusiasmo da tecnologia, é: estamos tomando decisões de dados demais e de inteligência de menos?
Um estudo da Cloverpop revela que 60% dos investimentos em dados e análises não chegam a ser aproveitados. Isso significa que boa parte do esforço em gerar informação não se traduz em melhores escolhas, mas em sobrecarga. A abundância de dados não elimina a necessidade de reflexão, pelo contrário, aumenta a responsabilidade de interpretar, questionar e integrar variáveis que não cabem em uma planilha. Afinal, números mostram o quê e o quando, mas dificilmente capturam o porquê ou o como agir. É aí que entra a inteligência.
O paradoxo da era digital
A inteligência aqui não se restringe à tecnologia, mas inclui o olhar humano, a experiência acumulada, o contexto cultural e os valores que moldam cada decisão. Dados são fundamentais, mas não bastam. A Gartner projeta que até 2026, 75% das empresas globais adotarão práticas de Decision Intelligence, uma abordagem que une dados, algoritmos e interpretação humana para transformar cada decisão em aprendizado contínuo. A lógica é simples: decisões não devem ser vistas como um fim, mas como um processo em constante evolução.
A corrida pela inteligência artificial reforça esse paradoxo. Em 2024, 72% das empresas já utilizavam IA em pelo menos uma área de negócio, contra 55% no ano anterior, segundo a McKinsey. O crescimento é impressionante, mas o Wall Street Journal mostra o outro lado: apenas 1% das empresas nos Estados Unidos conseguiu escalar a IA com sucesso e obter retorno financeiro consistente. Ou seja, investir em tecnologia não garante transformação. A diferença está em como ela é aplicada, com clareza de propósito e integração à estratégia. Quando isso não acontece, empresas acabam colecionando ferramentas sem gerar impacto real.
O excesso de dados pode aprisionar decisões em relatórios intermináveis, criando uma falsa sensação de segurança. Já a inteligência, entendida como a capacidade de contextualizar, aprender e reinterpretar informações, é o que dá vida aos números. A maturidade organizacional, portanto, não está em acumular dados, mas em saber usá-los como trampolim para escolhas mais ousadas e consistentes.
No fim, a pergunta é inevitável: a sua empresa está realmente mais inteligente ou apenas mais informada? A diferença entre esses dois estados pode definir quem vai prosperar e quem ficará preso na ilusão de que números, sozinhos, são suficientes para guiar o futuro.
Por Alessandra Montini, Diretora da FIA Labdata.