A pergunta que mais cresce e que mais incomoda não é o que fazemos com a inteligência artificial, mas o que ela faz com aquilo que fazemos.
Cada busca, cada clique, cada hesitação registrada por um algoritmo deixa um rastro que revela muito mais sobre quem somos do que imaginamos. Nossa identidade digital deixou de ser um reflexo da vida real. Hoje, ela é a vida real para qualquer sistema que toma decisões sobre nós: crédito, saúde, consumo, oportunidade de trabalho, segurança.
É por isso que, quando falamos de IA, não estamos falando apenas de tecnologia, mas de assimetria e vulnerabilidade humana. Ela sabe mais do que dizemos e às vezes mais do que sabemos sobre nós mesmos
A nova geração de modelos generativos e preditivos não apenas coleta dados, mas infere comportamentos, prediz intenções e modela preferências e essas inferências, quando não governadas, abrem espaço para distorções, vieses e riscos sistêmicos.
Segundo o relatório IBM Cost of a Data Breach 2024, o Brasil possui um dos maiores custos médios de vazamento de dados do mundo: R$ 7,19 milhões por incidente. Esse número não fala apenas de finança, mas da fragilidade da nossa identidade digital exposta, replicada e comercializada em um mercado invisível que gira na velocidade de APIs e integrações.
O papel da governança: não é sobre impedir, é sobre permitir com segurança
Governança de IA é projeto civilizatório dentro das empresas. É decidir como os dados serão usados, por quem, com qual transparência e com qual limite ético.
As organizações que lideram esse movimento estão adotando três pilares:
1. Transparência algorítmica
Se a IA está tomando decisões sobre pessoas, elas precisam entender os critérios. Transparência não elimina risco, mas reduz assimetria e assimetria é o que fragiliza a confiança.
2. Minimização e qualidade dos dados
Dados mal estruturados ou desnecessários ampliam vieses e tornam a identidade digital mais vulnerável a inflexões equivocadas.
3. Accountability integrada à operação
Governança não pode nascer apenas no jurídico. Ela precisa estar em TI, em Dados, nas áreas de negócio, no RH, no marketing, em qualquer lugar em que a IA esteja influenciando comportamento, recomendação ou tomada de decisão humana.
Empresas que tratam governança como “tema técnico” estão correndo atrás. As que tratam governança como tema estratégico estão construindo vantagem competitiva.
O que permitimos que a Inteligência Artificial aprenda
Identidade digital é o novo CPF. Se queremos um futuro em que a IA amplie capacidades humanas e não substitua nossa autonomia, precisamos garantir que cada dado, cada permissão e cada inferência esteja dentro de um sistema que respeite limites, exponha critérios e proteja a integridade do indivíduo.
-Por Alessandra Montini, Diretora da FIA Business School – Labdata.