A criatividade dos algoritmos: será que as máquinas estão inventando um novo jeito de pensar?

Por Alessandra Montini*

Vivemos um momento fascinante em que a linha entre a criatividade humana e a inteligência artificial (IA) se torna cada vez mais tênue. Se há alguns anos o conceito de “máquina criativa” soava como ficção científica, hoje ele se aproxima da realidade. A questão que surge é: até que ponto as máquinas estão realmente criando algo novo? Ou será que estão apenas imitando padrões humanos de maneira mais eficiente e rápida?

A primeira coisa que precisamos entender é o que é criatividade. Tradicionalmente, ela tem sido vista como uma habilidade humana: a capacidade de gerar ideias novas, originais e úteis. Em um mundo onde a inovação é a chave para o progresso, a criatividade é o motor de muitas indústrias, desde a arte até a ciência, passando pela publicidade, moda, design e, claro, o setor de tecnologia.

Com o advento de algoritmos cada vez mais sofisticados, surgem duas perguntas fundamentais: As máquinas podem ser criativas como os humanos? E, mais importante, como essa criatividade pode impactar o nosso modo de pensar e viver?

Primeiro, precisamos de uma breve explicação sobre o que significa um algoritmo ser “criativo”. Um algoritmo criativo é aquele capaz de gerar resultados inovadores com base em grandes volumes de dados, padrões e probabilidades. Esses algoritmos, conhecidos como redes neurais e aprendizado de máquina, são programados para analisar informações e, com isso, gerar novas possibilidades.

Um exemplo interessante de criatividade algorítmica pode ser visto no campo da arte. Nos últimos anos, a IA foi responsável por criar obras de arte que causaram tanto impacto que algumas delas chegaram a ser leiloadas por milhões de dólares. A Edmond de Belamy, criada por um algoritmo chamado Generative Adversarial Networks (GAN), por exemplo, foi vendida por US$ 432 mil em 2018. Isso levanta a questão: o algoritmo que gerou essa pintura foi criativo? Ou simplesmente seguiu padrões de pintura existentes? A resposta depende da nossa definição de criatividade. Se considerarmos criatividade como a capacidade de criar algo inédito, a IA conseguiu.

A criatividade algorítmica na prática

No mundo dos negócios, a criatividade dos algoritmos está mudando a forma como nos relacionamos com produtos e serviços. Desde a personalização de anúncios até a criação de novos modelos de negócios, os algoritmos estão moldando o futuro das empresas. Um estudo da McKinsey, por exemplo, revelou que 71% das empresas líderes em inovação usam inteligência artificial para criar novos produtos ou serviços. Isso mostra que, ao contrário do que muitos pensam, as máquinas não estão aqui para substituir a criatividade humana, mas para ampliá-la.

Empresas como a OpenAI e a DeepMind, por exemplo, têm demonstrado o poder da IA ao criar novas formas de resolução de problemas complexos, como a descoberta de medicamentos e o desenvolvimento de algoritmos de aprendizado mais eficazes. A IA não apenas analisa grandes volumes de dados, mas também começa a oferecer soluções inovadoras baseadas nesses dados.

O impacto da criatividade das máquinas no nosso pensamento

Com tudo isso em mente, é impossível não refletir sobre como isso afeta nosso próprio processo criativo. Se as máquinas começam a criar de maneira mais eficiente, será que, como seres humanos, estamos mais propensos a depender dessas máquinas para nossas inovações? Ou, por outro lado, elas estão nos ajudando a pensar de formas que antes não eram possíveis?

Os algoritmos criativos podem, de fato, estar nos ajudando a romper barreiras mentais. Eles são capazes de gerar ideias em questão de segundos, muito mais rápido do que um humano seria capaz de fazer, e, por vezes, de uma maneira totalmente inesperada.

Essa aceleração da criatividade e da inovação pode transformar setores inteiros. Na música, por exemplo, algoritmos já são capazes de compor canções. Na literatura, programas como o GPT-3, que geram textos em questão de segundos, têm sido usados para criar romances, poesias e até roteiros de filmes.

Até onde vai a criatividade dos algoritmos?

Embora os algoritmos possam imitar a criatividade humana em vários aspectos, a verdadeira questão é: eles podem inventar algo completamente novo? Ou estão apenas remixando o que já existe? A resposta, por enquanto, parece ser um pouco dos dois. Os algoritmos podem criar novas combinações de ideias, mas sua capacidade de “inovar” de uma maneira completamente inédita é limitada. O que a IA ainda não consegue fazer, de forma plena, é entender o contexto emocional, social e filosófico que guia a criação humana.

Portanto, enquanto a IA pode ser uma aliada poderosa para ampliar nossa criatividade, ela ainda precisa da orientação humana para realmente criar algo que ressoe com o público em um nível profundo e significativo.

A grande pergunta que fica é: como as empresas podem balancear a criatividade algorítmica com a criatividade humana? A resposta está na colaboração. As máquinas podem nos ajudar a explorar mais rapidamente novas ideias, mas é o toque humano que ainda faz toda a diferença na hora de conectar essas ideias de forma que tragam impacto e emoção para o público.

Embora os algoritmos estejam, sem dúvida, ampliando a criatividade e a inovação em diversos setores, a criatividade humana continua sendo o fator diferenciador. A máquina pode, sim, criar, mas é o humano que dirige essa criação para algo que tenha um propósito maior e que toque as emoções, algo que as máquinas ainda não conseguem fazer de forma autêntica.

Em um futuro próximo, veremos uma colaboração ainda mais estreita entre a criatividade humana e a algorítmica. E quem sabe, talvez até tenhamos que redefinir o que entendemos por criatividade à medida que as máquinas continuam a inovar e transformar nossas ideias. O que sabemos é que estamos apenas no começo de uma revolução criativa impulsionada pela inteligência artificial.

*Alessandra Montini é diretora do Labdata, da FIA

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